O que é amor?

 

O que é amor?

    As discussões sobre o amor têm ganhado espaço não só na filosofia, mas também em outros campos do conhecimento, como na psicologia, na psicanálise e na neurociência. O amor posiciona o homem numa condição de apego ao próximo e de profundo cuidado pelo amado ou pela amada. 

    Leia também sobre a diferença entre amor e paixão, as virtudes que fazem o amor dar certo, coisas que sem as quais nenhum relacionamento cresce ou ainda sobre o amor romântico.

    Muitos foram os estudos relativos ao amor. É neste sentido que falaremos agora de algumas abordagens apresentadas pelos mais conceituados pensadores no tema.

Eros ou amor como desejo

O-que-é-amor-eros-desejo?

    O amor como desejo foi apresentado por Platão. Platão foi um pensador da Grécia Clássica e fala do amor na sua importante obra O Banquete, considerado, por muitos, como a principal referência sobre o tema, onde são apresentadas diferentes concepções sobre o amor. Porém, iremos nos limitar no seu principal conceito de amor.

    Platão não falava português e para se referir ao amor utilizava a palavra Eros. Como já vimos, Eros significa “desejo”; logo, para Platão, amor é desejo, ou seja, amar é desejar o objecto amado. 

    Como problemática deste discurso, podemos questionar, se amor é desejo, o que é desejo? Platão responde que desejo é falta, isto é, o amor se exprime no apego que temos pelas pessoas ou coisas que nos faltam. 

    Apenas amamos verdadeiramente aquilo que nos falta e que queremos ter. Assim, só se ama a pessoa ou o objecto que desejamos.

Philia ou amor como alegria

O que é amor-philia?

    O amor philia foi apresentado por Aristóteles. Aristóteles falou sobre o amor na sua também famosa obra Ética à Nicômaco. 

    Assim como Platão, Aristóteles também não falava português; e para se referir ao amor, usou a palavra Philia. Para este pensador. Philia significa “alegria”; logo, para Aristóteles, amor é alegria, ou seja, alegria que sentimos pela presença do objecto amado. 

    O amor Philia é também pensado na base da amizade, da ligação afetiva de uma comunidade ou entre duas pessoas.

    Nota-se então que Aristóteles definiu o amor de uma maneira muito contrária à definição dada pelo seu mestre Platão. Vimos que enquanto que para Platão o amor é Eros, no desejo e na falta, para Aristóteles, o amor é Philia, na alegria e na presença. 

    Em outras palavras, segundo Aristóteles, o amor é a alegria que sentimos por aquilo que já temos, por aquilo que já é nosso, pela pessoa com quem já nos relacionamos.

Ágape ou amor ao próximo

O que é amor agape?

    O amor ao próximo foi ensinado por Jesus Cristo. Cristo também não falava português. Para se referir ao amor de Cristo, usa-se a expressão Ágape.  

    Ágape significa “por qualquer um”; logo, amor é o apreço que sentimos por qualquer um, muitas vezes ligada à caridade, à ajuda humanitária, ou seja, ao amor a todos.

    O amor Ágape não conhece distância, género, etnia, raça, cor ou grupo social; exprime a mais pura manifestação de apreço, de ajuda, de satisfação, de estima, de afeto, de prioridade, de entrega e até mesmo de sacrifício pelo outro, tal como o fez Cristo pela humanidade, por todos, por qualquer um; um esforço constante de busca pela felicidade e pelo bem-estar do outro. 

    Este amor, como já vimos nos estilos de amor, se resume em reduzir-se a si mesmo para o crescimento não só da pessoa amada, mas de qualquer um, ou seja, a retirada do amante para o aparecimento do amado. 

    A finalidade deste amor está na felicidade do outro, ou ainda, o amor é a busca incessante da felicidade do amado ou da amada, isto é, amar o outro como a nós mesmos.

Amor prático ou altruísta

O que é amor?

    O amor prático foi proposto por Immanuel Kant. Kant, na sua obra Crítica da Razão Pura, defende o amor altruísta como um amor prático, ou seja, um conjunto de acções que se justificam no simples prazer de ajudar aqueles de que se tem amor. 

    Kant, então, concebe o amor como uma preocupação verdadeira pelo bem-estar do outro; o prazer de ajudar desinteressadamente. É fácil perceber neste amor a renúncia ao próprio eu em benefício do outro.

    Assim, amar não é lançar declarações ao ar ou jogar palavras bonitas ao vento à espera que a pessoa amada ouça. O Amor é prático e caridoso. Não se resume em versos, mas também em acções que fundamentam a alegria que se nutre pela pessoa. 

    O amor se completa quando as palavras se ligam a acções que demonstrem este amor. O amor se apresenta então não como simples forma de expressão verbal, mas também de belas expressões práticas e altruístas.

Amor como alegria pela existência do outro

 

O que é amor?

    O amor Baruch de Espinosa foi um dos grandes racionalistas e filósofos do século XVII. Para Espinosa, o amor é a alegria que sentimos por uma causa exterior a nós, ou ainda, é a alegria que advém da simples existência da pessoa amada; alegria essa que, frente ao amado, aumenta a nossa potência de viver.

    Em outras palavras, o amor é a alegria que sentimos pelo simples facto da pessoa amada existir; a alegria que nutrimos pela existência da pessoa amada. 

    Esta abordagem é muitas vezes usada em declarações de amor, que pode ser dita olhando-se nos olhos de quem se tem amor e dizer: eu sinto uma alegria pelo simples facto de você existir; ou ainda, eu sou feliz, porque você existe; ou até, você é a causa de toda a minha alegria.

Fati ou amor pelo real

O que é amor fati?

    O amor pelo real foi explicado por Friedrich Nietzsche. Nietzsche foi um dos maiores filósofos da modernidade. Como os outros pensadores, Nietzsche não falava português e se usa a expressão Fati para se referir ao seu amor. 

    Fati significa “amor ao destino ou ao real”; logo, amor é o apreço que sentimos pela pessoa como ela é. 

    O amor Fati se exprime em não sermos dominados pela paixão ao ponto de nos apegarmos pelo ideal que construímos da coisa amada, mas em sermos atraídos pela sua realidade, de modo a sabermos praticar os deveres do relacionamento, podendo se edificar um relacionamento cônscio e maduro.

    Muitas vezes, nossa realidade é escondida por aquilo que parecemos ser ou que deixamos as pessoas verem e ocultamos a realidade que nos caracteriza; e muitas vezes passamos a amar a aparência das pessoas e não a realidade das mesmas. 

    Neste aspecto, Nietzsche explica que o amor verdadeiro é o apreço que sentimos pela realidade do objecto ou da pessoa amada, ou seja, o afeto que nutrimos pelas coisas do jeito que a natureza as fez, na sua real essência e não pelos ideais que criamos.

Outras definições de amor

Além das definições de amor propostas pelos pensadores citados acima, vale também apresentar outras definições fundamentais sobre o tema.

Amor como sacrifício por quem se ama

O que é amor-sacrificio?

    O amor é também definido como o sacrifício de quem ama para a sobrevivência da pessoa amada. Este amor apresenta, como condição primordial, a aceitação da própria morte caso isso seja necessário para a sobrevivência da pessoa amada. 

    Lembremos a famosa peça de Romeu e Julieta de William Shakespeare, onde os dois amantes, levados pela angústia da ausência um do outro, decidem suicidar-se.

    O amor é também por aquilo que nos alegra; pela pessoa que nos cativa, nos atrai e nos causa saudade. O amor acontece no momento em que passamos a nos alegrar por uma pessoa, por um animal, por um objecto, por qualquer coisa. 

    A essência do amor, nesta abordagem, exprime-se então pelo sacrifício constante que fizemos pela pessoa que amamos e que nos causa alegria.

Amor como união e harmonia

O que é amor-harmonia?

    O Amor é o que justifica a união no mundo. As pessoas são singulares, as coisas são singulares, tudo é singular. Então, se tudo no mundo se caracteriza pela sua singularidade, a única coisa capaz de possibilitar a união é o amor. 

    Amor é o que justifica a harmonia das coisas em meio a um mundo de singularidades e diferenças. Em outras palavras, a harmonia só é possível no amor.

    A união de duas pessoas singulares que juntas se tornam numa só, é justificada pelo Amor. A harmonia de coisas diferentes é justificada pelo amor. Ou seja, o amor é o que une os contrários e possibilita a harmonia no mundo. 

    Quando duas pessoas se unem, elas se tornam numa só, graças ao amor. O amor une e harmoniza.

    O amor pode também ser aquilo que nos regozija; as coisas nas quais encontramos um profundo sentimento de júbilo quando as vemos. Esta alegria é o que dá vida ao nosso amor. Amor é a alegria pelas pessoas e por tudo mais que pode existir. 

    A natureza do amor estaria então na alegria pelo mundo, por alguma coisa que existe e que nos embeleza.

Amor como encantamento dos sentidos

O que é amor?

    O amor é o que encanta os nossos sentidos; é o motivo das nossas atitudes mais nobres; é tudo o que as civilizações precisaram para se desenvolverem. 

    O amor é o transe divino que se apresenta de diversas formas e significados; e quando se diz “eu te amo”, fica difícil entender o que realmente se quer dizer.

    Em resumo, podemos verificar que o amor é um sentimento de grande valor. Aliás, se chegamos até este estágio da humanidade, é graças ao amor pelo outro, afinal, sem amor, nos mataríamos e não sobraria ninguém para contar a nossa história. 

    O amor ainda apresenta-se benéfico para a raça humana. Ao mesmo tempo que o amor pode ser belo e benéfico, também pode ser causa de tristezas e tragédias, afinal, a ausência do amado ou da amada e a impossibilidade de ter o que se ama, pode resultar na mais dolorosa das tragédias: a morte.

 

 

Por: David Lutango

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Fontes:

Aristóteles. (1984). Ética à Nicômaco. Coleção Os Pensadores, trad. de Vincenzo Cocco et al. São Paulo: Abril Cultural.

Bíblia. Tradução João Ferreira de Almeida. Mateus: 22:39.

Nietzsche, F. (2008). Ecce Homo. Editora LusoSofia.

Platão. (2013). O Banquete. Editora Virtual Books, p. 60.

Spinoza, B. (2009). Ética. Autêntica Editora. [tradução de Tomaz Tadeu]. – Belo Horizonte.

Kant,  Immanuel.  Crítica  da  Razão  Pura.  Trad.  J.  Rodrigues  de  Merege.  Edição ACRÓPOLIS. [EBOOK]

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