¨Sinto falta dos tempos que não voltam mais¨, por Rosa Rodrigues.



    Antigamente, as pessoas levavam a vida de forma responsável. Hoje os jovens vivem a vida pensando em bens materiais por causa da modernização. Sinto falta dos conselhos passados de geração a geração por via oral, das roupas bonitas, das coisas lindas que vinham da capital e do pensamento simples a um sorriso ingénuo. Antigamente, o pai do outro te tratava como filho. Hoje, os mais velhos pensam em namorar com as crianças. Antes, as amizades eram verdadeiras e as famílias eram temidas. Hoje, amizade é por interesse e as famílias são respeitadas conforme o nível social e económico. 

    Antes, as crianças não podiam ofender, porque antes mesmo dos pais se aperceberem, os vizinhos já tomavam as medidas disciplinares. Sinto falta do tempo em que quando chovia, era bênção, e todos saiam para se molhar, desde os adultos até às crianças. Hoje nos trancamos e nos limitamos a ouvir a chuva batendo nos nossos telhados. Antigamente, ir à lavra era uma maravilha e todos faziam filas. Hoje, quando dizes vou à lavra, todos se riem e dizem que é mato.

    Do dendém à banana verde, das bonecas de garrafas às rainhas da Beleza Africana, dos não letrados aos letrados, dos bonecos de barro aos carros de latas, sinto falta. No meu tempo, as brincadeiras nos traziam alegria e aprendíamos a conviver por meio das brincadeiras. Hoje, ninguém sabe diferenciar entre quem estudou e quem realmente foi educado. Não tínhamos preconceitos, todos eram famílias e todos tinham histórias lindas para contar.

    Antigamente, o alambamento não era uma festa enorme, era apenas uma reunião dos mais velhos, onde as crianças só se apercebiam quando viam os noivos de mãos dadas e com roupas de pano. Hoje, tudo é apenas Marketing. Todos queremos aparecer. Antes, a viúva era símbolo de respeito e velório era coisa que só os mais velhos podiam falar .

    Dos pirilampo abaixo do luar às lamparinas acesas, dos milhos torrados ao feijão de óleo de palma feito na panela de barro, sinto falta. A história não foi escrita, mas ainda conseguimos contar sem falhar um ponto ou uma vírgula. No Natal e no Ano Novo, as pessoas uniam-se para celebrarem a amizade e o amor, com ambientes enfeitados de alegria, bolos e muita comida. Hoje isso foi esquecido.

    Eu era feliz e não sabia .

    Aquele sorriso verdadeiro que as pessoas mostravam sempre que encontravam seus parentes foi apagado pelo tempo. A alegria de ouvir a rádio tocando às 07:00 da manhã, as notícias, as músicas infantis que de lá soavam e faziam-nos sonhar alto, o barulho do gerador que se ouvia das casas onde as famílias tinham condições de o comprar, a alegria dos filhos ao ver o pai e a mãe chegar... são sentimentos que não têm preço.

    Sinto falta dos tempos que não voltam mais. Dos professores realmente preocupados em saber o nome dos seus alunos e de cada encarregado de educação, da reunião dos encarregados de educação, cujos olhares sinalizavam castigo dos alunos mais atrevidos que quebravam as regras, das palmatórias que nos eram atribuídas às pancadas com chineladas das nossas mães sobre os nossos corpos...

    Sinto falta.


Autora: Rosa Rodrigues

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