A moça dos lenços amarrados

 

 

     Lembro-me que, toda vez que fosse fazer um serviço domiciliar, as pessoas sempre perguntavam onde estava a moça que amarraria os lenços. Quando eu dizia que era eu mesma, elas olhavam para mim e faziam uma cara de surpresa. Mais tarde descobri que isso acontecia por causa da minha idade e altura. Ainda assim, a minha missão era mostrar como os pequenos também podem fazer nosso mundo se tornar grande. E eu só queria contribuir para o crescimento do nosso mundo.


     Eu levava jeito com os panos desde os meus 11 anos, quando a secretária da escola onde eu estudava um dia olhou para mim com um sorriso entre os lábios e disse-me que eu nascera para amarrar lenços e criar tendências de roupas que poderiam marcar a vida das pessoas. O tempo foi passando e, confesso, nunca pensei que um dia pudesse transformar em negócio a minha paixão pelos panos. E foi com os meus 17 anos que esta paixão começou a ganhar contornos profissionais no mundo da moda. 

     2020 foi um ano difícil para todos. A pandemia trouxe consequências trágicas e irreversíveis em nossas vidas e no mundo como um todo. Foi durante o confinamento que, na tentativa de esquivar o tédio e o medo do que poderia acontecer, decidi explorar um pouco mais a paixão pelos panos que todos os dias me preenche como a água preenche o oceano. 

     Eu amarrava panos e, logo que terminava, voltava a amarrar outros panos, tudo para que encontrasse a excelência e, assim, poder oferecer aos meus clientes a experiência de usarem lenços de qualidade feitos com toda a dedicação e paixão que se pode encontrar. Confesso que minha mãe serviu de grande apoio para que eu pudesse seguir em frente e estar firme até hoje nesta moda que amo perdidamente.

     O que muita gente não sabe é que o lenço, também conhecido como turbante, já existe desde a escravatura e era usado como representação de poder. Desenvolvida na Nigéria, o turbante logo chegou em Angola e em muitos outros países do continente berço. O turbante pode ser amarrado de várias formas e cada uma das formas possui um significado especial. 

     Esta peça africana é também usada em todas as camadas sociais e por todo tipo de pessoas, desde mulheres ligadas à política, à agricultura até às mulheres que sobem ao altar para selarem o matrimónio com seus parceiros. 

     Isto é para mim uma experiência deveras de requinte, pois eu sempre gostei dos panos africanos e amo usar os trajes de originalidade africana. Isto me faz sentir eu mesma. Nisso descubro meu lugar, minha identidade e minha casa. É simplesmente a minha cultura, a energia que pulsa do coração de quem ama o continente berço e se irradia com o feitiço que só os que estão mergulhados na cultura conseguem sentir. 

     Além dos lenços, também idealizo e desenho roupas de especialidade africana. Inclusive, a roupa que uso, sou eu mesma quem idealizo e desenho, sempre procurando estar mais próxima da nossa cultura estilística e da nossa beleza africana. 

     Todavia, sinto que ainda tenho muito para dar neste mundo que chamamos de moda africana. Estou segura que ainda ouvirão falar de mim, pois trabalho todos os dias com o objectivo de sempre estar à altura da excelência. Foi assim que desenvolvi o projecto denominado CC Nzinga Beauty, cujo objectivo é de oferecer serviços de fixação e amarração de lenços.


Por Carolina Caetano (Catherine Nguelè), Estilista.



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